segunda-feira, 15 de junho de 2009

Braille sussurrado

A filha conhecia todas as histórias de cor, todos os clássicos lhe chegavam sussurrados aos ouvidos embalados pelo silêncio da noite.
Deitava-se na cama e não precisava de abrir o livro que continuava descansado na cabeceira de onde nunca tinha saído, que só não estava cheio de pó porque invariavelmente todos os sábados era limpo durante a limpeza semanal.
No quarto ao lado, a mãe e o pai deitados lado a lado com a cabeça recostada em duas almofadas cada um. A mãe, mais nova que o pai enverga uma camisa de noite impecavelmente engomada,coloca os óculos ao peito presos por um fio verde.
- Hoje apetece-te o quê?
- Podes continuar o do Llosa..
A mãe segura no livro, coloca os óculos e começa a ler alto.
O pai, cego, escuta com os olhos vazios e imagina as cenas dos livros da mesma forma que imagina tudo o que o rodeia no seu dia-a-dia, a filha no quarto ao lado de olhos abertos com a luz apagada faz o mesmo.

Nenhum comentário: