segunda-feira, 29 de junho de 2009

Já foste à wikipedia hoje?





Graças à wikipedia sei que a maior palavra portuguesa é:pneumoultramicroscopicossilicovulcanocouiótico.

Fado= Destino

A rapariga cantava prodigiosamente mal, mandavam-na calar na catequese para não destoar dos colegas, à noite sonhava que chegaria na próxima sessão da catequese e que quando cantasse lhe saíria, não a sua voz, mas a da Amália.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Fátima....

No dia da partida, de manhã vestiu os calções e uma t-shirt com nossa senhora estampada. A imagem era qualquer coisa de etéreo, parecia a aparição ela mesma que desta vez acontecera numa t-shirt ao invés de numa árvore. Na cabeça um boné verde e às costas uma pequena mochila com o essencial.
Partiu pela fresca com convicção, de joelhos. Trezentos quilómetros que seriam pouco para agradecer o que nossa Senhora fizera por ele, um sacrifício que na realidade era uma agradecimento.

De joelhos, ao sol, trezentos quilómetros...os joelhos em sangue cravejados de gravilha, mas aguentava, sem vacilar fechava os olhos e via-A. Continuava sem nunca pensar em desistir, ao fim ao cabo já não tinha cancro nossa senhora salvara-o.
As feridas nos joelhos não eram nada comparado do que ela o salvara.


As feridas pioravam mas isso não era nada, ela estava ali...sempre a seu lado, ele via-a, sorrindo-lhe serenamente mostrava que acreditava nele.

A morte foi serena.
A gangrena causada pelas feridas alastrara mas ele não deu por nada porque ela o pacificara, a sua presença abstraira-o e tornara a sua morte num calmo milagre.

domingo, 21 de junho de 2009

Era até engraçada váh...

Quase kafka

É um sentimento quase kafkiano tentar levá-la a fazer aquilo que ela teme.
Está ali mesmo ao meu alcance e ao alcance dela mas nem eu nem ela o conseguimos atingir.
Eu queria que ela o fizesse era melhor para ela, ela diz que eu tenho razão e baixa a cabeça.
Só queria que ambos ultrapassássemos o complexo Kafka.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Consulta

- Sabe doutor tenho vontade de fazer mal a mim próprio...às vezes coisas simples, se me sinto mais triste, não é preciso acontecer nada de especial ou terrível, tenho vontade de espetar um garfo no braço e fazê-lo entrar bem funto até que os dentes toquem no osso o que a parte mais grossa também ela se enterre.O sangue há-de jorrar e espalhar-se pelas minhas roupas e a dor vai ser praseirosa como uma dentada de amor....sei que há qualquer coisa de errado aqui...um psiquiatra não deveria ter um divã?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O fumo prometido.

A casa dos meus avós era no campo, a porta da cozinha, que dava para a marquise cujo chão se inundara com vasos de plástico a imitar o barro , estava sempre aberta apenas protegida contra as moscas por uma rede de plástico que se encardira com o tempo.
Todos os segundos Domingos do mês, aquando do mercado do mensal o meu avô ia buscar-me a casa para ver a feira e depois seguíamos para casa onde a minha avó nos esperava com o almoço feito.
A minha avó tirava-me sempre as espinhas do peixe e descascava-me as batatas, ao almoço ouvíamos o noticiário- como lhe chamava o meu avô - no fim do noticiário, já o meu avô tinha terminado o almoço eu sentava-me muito junto a ele e ficava à espera.
A minha avó colocava o cinzeiro e os fósforos no canto da mesa.
- É isto que ainda te há-de matar- dizia sempre.
Tirava o maço de Português amarelo do bolso da camisa e acendia o cigarro.
Era aquele o momento pelo qual eu esperava...o primeiro bafo aquele cheiro inundava-me as narinas, dava-me prazer. Ao segundo afastava-me, já o cheiro era diferente.

Hoje todos os dias meto 3,40 euros na máquina e tiro um Português amarelo, nos dias bons lembro-me do meu avô, dos almoços e das voltas na feita, outros tenho em que me lembro do João César Monteiro.

Braille sussurrado

A filha conhecia todas as histórias de cor, todos os clássicos lhe chegavam sussurrados aos ouvidos embalados pelo silêncio da noite.
Deitava-se na cama e não precisava de abrir o livro que continuava descansado na cabeceira de onde nunca tinha saído, que só não estava cheio de pó porque invariavelmente todos os sábados era limpo durante a limpeza semanal.
No quarto ao lado, a mãe e o pai deitados lado a lado com a cabeça recostada em duas almofadas cada um. A mãe, mais nova que o pai enverga uma camisa de noite impecavelmente engomada,coloca os óculos ao peito presos por um fio verde.
- Hoje apetece-te o quê?
- Podes continuar o do Llosa..
A mãe segura no livro, coloca os óculos e começa a ler alto.
O pai, cego, escuta com os olhos vazios e imagina as cenas dos livros da mesma forma que imagina tudo o que o rodeia no seu dia-a-dia, a filha no quarto ao lado de olhos abertos com a luz apagada faz o mesmo.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

cidades invisíveis

As cidades invisíveis

Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte?-perguna Kublai Kan.
-A ponte não é sustida por esta ou por aquela pedra-responde Marco- mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai Kan permanece silencioso, reflectindo.Depois acrescenta:- Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde:- Sem pedras não há arco.

in As cidades invisíveis de Italo Calvino