Março: frio. A calçada ainda não secou das chuvas intensas dos últimos meses apesar de já não chover há semanas. O céu estava completamente encoberto há pouco, agora, espreitam uns raios de sol no meio de umas nuvens carregadas.
Ela: cortou o cabelo há dois dias, hoje vestiu a saia beije de três folhos e a blusa às bolinhas verdes. Sabe que não combina mas, tem calçados uns ténis. Dirige-se, insegura para a porta do teatro.
A rua: obras na rua que ela percorre para chegar ao teatro, buracos no chão, carros pesados.
Ele: trás a mochila cheia, assente apenas num ombro. Vestiu o casaco de cabedal castanho que lhe haviam dado e que detestava. Parecia mais velho. Colocou a sua expressão mais indiferente. Por vezes de súbito apercebia-se do peso que carregava na mão direita, não desviava o olhar para o ver mas tomava consciência da presença do violino.
Ela: sentia-se avançar agora completamente consciente de que andava, tomava consciência os seus pés um depois do outro, dos joelhos que flectiam e que distendiam, o braço inerte agarrava a mala que trazia ao ombro, ao invés, o outro bamboleava para a frente e para trás. Da distância dos seus olhos do chão, via avançar as pedras da calçada na direcção oposta àquela a que se dirigia.
Os carros: dois. Param para ela passar.
Ele: desce a escadas e vê-a. Concentra-se na indiferença.
Os dois: Ele estica-lhe o violino, ela segura-o. Ele tira a mochila do ombro, abre-a e entrega-lhe o saco. Ela não o abre e coloco-o na mala que trás ao ombro de onde tira dois ou três livros. Despedem-se cordialmente.
Ele: mantém-se indiferente.
Ela: apercebe-se da realidade.
Março: o Sol brilha.
domingo, 1 de novembro de 2009
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